FORTALEZA-CE – No dia mundial da árvore que aconteceu na segunda-feira, 21, tivemos a satisfação de observar que o Projeto Bioma Caatinga, em desenvolvimento no estado do Ceará desde 2013, está atingindo seus primeiros resultados, onde as pesquisas já indicam que para algumas essências da mata branca, como o pau branco, pau d’arco e aroeira, as exigências quanto ao tempo de recuperação são bem menores. Hoje são 20 anos, de acordo com as normas oficiais. Além disso, os pesquisadores estão trazendo para o campo a possibilidade dos produtores utilizarem diversos tipos de árvores, como fator de diversificação da produção, proporcionando ganhos econômicos e sociais, bem como subsidiar no aprimoramento das leis ambientais vigentes. Estas foram algumas das impressões destacadas sobre o Programa Bioma Caatinga, pelos pesquisadores da Embrapa Florestas.
Tendo em vista as comemorações pelo Dia Internacional da Floresta, que transcorreu dia 21, o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceara – FAEC, Flávio Viriato de Saboya Neto, acompanhado do Presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Ibaretama,Carlos Bezerra Filho, e da Assessoria de Imprensa, visitou no dia 17/03 a área experimental do projeto, localizado na Fazenda Triunfo, no município de Ibaretama-CE.
Segundo o presidente da FAEC, a CNA que na época era dirigida pela senadora Kátia Abreu, entendeu,que seria importante trazer para essa discussão argumentos técnicos e científicos e tomou a iniciativa de se tornar parceira da EMBRAPA e viabilizar o financiamento de um importante projeto de pesquisa que tinha a árvore como fonte de pesquisa. Assim, o projeto foi lançado em fevereiro de 2010 e começou a se tornar realidade. Para Flávio Saboya, hoje o projeto está em fase avançada, mas enfrenta um grave problema que é a falta de água na Fazenda, com quatro anos seguidos de seca, sendo necessário a perfuração de poços para que as pesquisas não sofram solução de continuidade e prometeu levar o assunto à Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA.
O estado do Ceará é um dos estados da Federação a sediar as pesquisas sobre os seis Biomas brasileiros (Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga, Amazônia, Pantanal e Pampa) onde já se desenvolvem há cinco anos, pesquisas que tem cobertura vegetal como prioridade para as Pesquisas. O projeto foi Idealizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), há mais de cinco anos, quando se polarizava a discussão envolvendo produção rural versus preservação/conservação ambiental e desenvolvimento sustentável. Ainda faziam parte do cenário da época as discussões sobre o Código Florestal Brasileiro,informa a coordenadora do projeto junto à CNA, Cládia Rabelo.
No Ceará o projeto foi lançado pela Embrapa em 2013, explica o Coordenador geral dos Biomas Brasileiros, Gustavo Ribas Curcio, que também esteve visitando semana passado o Bioma Caatinga e recebeu a comitiva da Faec. Ele informou que numa área de 30 hectares estão implantados 10 experimentos liderados por um grupo de pesquisadores dos estados do Ceará, incluindo o Centro Nacional de Pesquisas de Caprinos da Embrapa, de Alagoas, Pernambuco, Paraíba e Paraná. O Centro de Pesquisas da EMBRAPA Florestas e da EMBRAPA Semiárido, estão coordenando as pesquisas, contando com o apoio de um Engenheiro Florestal da CNA, e de um Administrador indicado pelo do Sindicato dos Produtores Rurais de Ibaretama, filiado a FAEC.
Conforme explicou Gustavo Ribas em cada bioma foi selecionada uma área experimental, localizada em uma propriedade rural privada, e uma área de referência (aquela em que as características daquele bioma se apresentam intactas. Nessas áreas são realizadas as pesquisas experimentais e as pesquisas diagnósticas, com previsão de conclusão do projeto em 2019, quando se encerrará uma primeira fase que foi estruturada em 9 anos.
BIOMA CAATINGA
A área experimental do Bioma Caatinga está situada no município de Ibaretama–CE, há 30 km da Cidade de Quixadá, na Fazenda Triunfo, em uma área de 30 hectares, cedidas pelo espólio de Francelino Gomes de Oliveira. Mas antes disso, dois subprojetos de pesquisa, que não envolvem o plantio de mudas, foram iniciados nos anos de 2012 e 2013. Um dos projetos de destaque neste bioma é o que envolve formas de controle de Criptostegia madagascariensis (viuvinha), planta exótica e invasora, de extrema agressividade presente nos ecossistemas da Caatinga, incorrendo em expressivas perdas tanto principalmente para os carnaubais do Biomas.
Na semana de 14 a 18 de março um novo experimento foi implantado na área, pela pesquisadora Annete Bonnet, da Embrapa Florestas, com sede no Estado do Paraná. “Nosso experimento è com 15 espécies nativas de árvores como modelo de reserva legal, entre elas, espécies como a catingueira, jurema, sabiá, angico e mulungu, em espaçamentos diferenciados, explica Annete. Somente neste experimento que ela Coordena foram plantadas 2.250 mudas.
Conforme dados da Coordenação da CNA, de 2010 até hoje, o Projeto Biomas já plantou mais de 5 mil árvores de 37 espécies na área experimental da Caatinga. As árvores fazem parte dos 17 subprojetos de pesquisa implantados. No local, os pesquisadores tem à sua disposição, uma Estação Meteorológica da FUNCEME – Fundação Cearense de Meteorologia do Ceará, movida a energia solar.
Devido à ausência de viveiros na região, o Projeto Biomas Caatinga assumiu a construção de um viveiro próprio na cidade de Quixadá – CE, em parceria com o Instituto Federal do Ceará – IFCE, o que permitiu a produção das mudas do projeto. Concomitantemente, foi criada uma equipe de coleta de sementes, além da disponibilização de um viveirista para a produção de mudas. Em contrapartida, o IFCE designou um técnico para complementar o processo de produção das mudas. Segundo informou o professor Lucas da Silva, do IFCE, já foram produzidas mais de 20 mil mudas, distribuídas entre os experimentos e Produtores de Quixadá.
O técnico em agropecuária José Antonio Sampaio de Matos destacou entre os experimentos o Sistema agro-pastoril – SAF que objetiva trabalhar a agricultura de subsistência (sorgo, milheto e feijão ) em consórcios com árvores, voltadas à comercialização, como o sabiá. Em outro experimento, pesquisadores da EMBRAPA Caprinos estão desenvolvendo pesquisas com a leucena e com a “glirecîdia”, esta última, uma gramínea altamente resistente à seca. A partir do mês de junho, os experimentos serão realizados com os animais Caprinos no pasto, para avaliar a palatabilidade e os valores protéicos. Ele observou ainda, que todos os experimentos estão utilizando a bagana da palha de carnaúba, uma árvore muito presente na Região, que ajuda a manter a umidade na planta.
O Presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Ibaretama, Carlos Bezerra Filho, informou que desde o inicio o Sindicato que è filiado a FAEC, vem apoiando o Projeto Bioma Caatinga, a partir das visitas às propriedades rurais para a escolha do melhor local, feita pelos técnicos da EMBRAPA, até a implantação propriamente dita. “Apesar das dificuldades com relação à água, e as poucas chuvas na Região, nós acreditamos que Pesquisar o Bioma pode levar a uma convivência sustentável na Caatinga. Em breve, vamos promover um Dia de Campo, com os Produtores para que eles tomem conhecimento de resultados de vários experimentos”, disse Carlos Bezerra. Wellington Ribeiro Gomes, um dos proprietários da Fazenda Triunfo, que cedeu à área para os experimentos do Bioma Caatinga, considera muito importante as pesquisas ali desenvolvidas,” trazendo novas informações que a gente do sertão não conhece, e muitas vezes somos até resistentes às mudanças.”
DIFUSÃO DAS TECNOLOGIAS
Segundo Informações da Coordenadora do PROJETO BIOMAS na CNA, Claudia Rabelo, a difusão das novas tecnologias geradas pelo Projeto Biomas se dá por meio de programas de capacitações, promovidas em parceria com o Sistema Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR), e Dias de Campo realizados nas fazendas experimentais. Hoje, passados cinco anos, o projeto encontra-se instalado nos seis biomas brasileiros.O projeto conta com o envolvimento de uma comunidade científica formada por 330 pesquisadores, oriundos de 122 instituições, além de aproximadamente 70 estagiários. Essa equipe é a responsável pela condução de mais de 100 projetos de pesquisa distribuídos nos biomas, que englobam 64 espécies arbóreas distribuídas em 97 mil mudas já plantadas.
O projeto possui ampla variação de temas pesquisados, todos destinados à inserção da árvore na propriedade rural, sempre observando a obediência à legislação ambiental e investe expressivamente em soluções técnicas para restauração de Áreas de Preservação Permanente – APPs, Áreas de Reservas Legais – ARLs e Áreas de Sistemas de Produção – ASPs.
PRIMEIROS RESULTADOS
Segundo relatório da CNA, muitos resultados, ainda que preliminares, já estão sendo compartilhados com a comunidade, especificamente, com os produtores rurais.Foram promovidos cursos de capacitação voltados a técnicos extensionistas e multiplicadores nos biomas Mata Atlântica e Cerrado, quando foram produzidas as vídeo-aulas que serão transmitidas pelo portal de ensino à distância (EaD) do SENAR. Com isso, pretende-se contribuir com a formação e a profissionalização das pessoas do meio rural em todo o território nacional.
E, finalmente, foram realizados dias de campo nos biomas Mata Atlântica, Cerrado e Amazônia, onde o produtor pôde visualizar, na prática, os avanços do projeto e adquirir novas experiências para empregar em sua propriedade rural.
METAS PARA OS PRÓXIMOS ANOS
Conforme já mencionado, o Projeto Biomas tem como objeto central de estudo o elemento “árvore”. Por esse motivo, foi estruturado para ocorrer em 9 anos, devendo a primeira fase ser concluída em 2019, quando serão alcançados os resultados finais oriundos das pesquisas em desenvolvimento.As metas numéricas estabelecidas pelo para esse período são: Conclusão dos 98 subprojetos de pesquisa e difusão das novas tecnologias geradas por meio de 9 cursos de capacitações, incluindo EaD, e 8 dias de campo. Com isso espera-se iniciar um processo de beneficiamento de milhares de produtores rurais que terão acesso a importantes resultados científicos oriundos das pesquisas desenvolvidas pelo Projeto Biomas.
Atingindo essas metas entendemos que estaremos próximos de atingir uma meta maior: intensificar o uso da árvore na propriedade rural e garantir ao produtor novas técnica que possam promover a adequação da sua propriedade à legislação ambiental e, com isso, alcançar a sustentabilidade ambiental no meio rural, finaliza a cooordenadora Claudia Rabelo.