A busca de estratégias de convivência com a seca, com ênfase para a pecuária, tem pautado as discussões entre lideranças do setor agropecuário e governo do Ceará. Recentemente, a Federação da Agricultura e Pecuária do Ceará (Faec) apresentou duas reivindicações, que versam sobre as renegociações de dívidas rurais e compra integral do leite produzido e não apenas parte como vem acontecendo. De acordo com a Faec, essas são duas grandes preocupações, pois, caso não sejam oferecidas as condições essenciais à manutenção do rebanho, haverá um prejuízo de quase R$ 6 bilhões, com a perda de parte do rebanho no Estado.
O coordenador do Pacto de Cooperação da Agropecuária (Agropacto) e presidente da Faec, Flávio Viriato de Saboya Neto, apresentou ao titular da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), Dedé Teixeira, a necessidade da suspensão de todas as renegociações que ocorreram a partir da seca de 2012 – cujos vencimentos acontecem este ano, em sua maioria -, para que tenham o início de pagamento somente no final dos contratos, cuja solicitação ele já encaminhou à Confederação da Agricultura do Brasil (CNA) e ao Ministério da Fazenda.
A outra solicitação foi para que o governo adquira todo o leite produzido no Estado pelo programa Leite Fome Zero, acabando com uma portaria que determina a venda de apenas 21 litros por produtor. Essa reivindicação foi colocada na última reunião do Agropacto, pela produtora rural Ana Maria Carneiro Lima, do município de Quixeramobim. O Ceará produz hoje 100 mil litros de leite/dia.
Ações
O secretário de Agricultura, Aquicultura e Pesca, Osmar Baquit, anunciou que vai atuar no projeto Hora de Guardar, sugerido pela Faec. Segundo ele, tem muita coisa acontecendo nesses dois meses em sua Secretaria – que está trabalhando articulada com a SDA, e que recentemente assinou um protocolo com a Prefeitura de Camocim e um grupo italiano para instalação de um estaleiro naquela cidade e prometeu, também, maior apoio aos pequenos lacticínios, segmento importante para produção de leite, mas sempre buscando tecnologia.
Já o secretário Dedé Teixeira manifestou a sua preocupação com o perímetro irrigado do Chapadão de Russas, abastecido pelo açude Banabuiú – que está quase secando -, mas anunciou que o Castanhão subiu dois centímetros com as últimas chuvas no Estado. Ele comunicou, também, que o governo vai realizar um leilão reverso para perfuração de poços, no dia 18 de março, em homenagem ao Dia de São José, para perfuração de 398 poços. Além disso, segundo o secretário, o governo vai trabalhar o reuso de águas na agricultura, através do Projeto São José, e que o Estado vai começar a discutir também a alternativa de dessalinização da água do mar.
O secretário fez questão de ressaltar que as propostas do segmento agropecuário foram elaboradas com a participação da Faec e Fetraece, considerando que não somente os pequenos, mas os médios produtores serão beneficiados com as ações. A SDA informou também que dentro do Plano de Convivência com a Seca já foi solicitado o projeto de caprinocultura leiteira, atenderá a 330 famílias, com a aquisição de 5.280 animais, ampliar o leite Fome Zero – já que o Estado tem disponibilidade de comercializar mais de mil litros/dia, mas só comercializa a metade.
Pecuária e seca
Entre as ações anunciadas pela SDA, voltadas especificamente para a pecuária, destacam-se: prorrogação das dívidas renegociadas anteriormente, bem como as vencidas e as vincendas em 2015; liberação dos recursos aprovados pela bancada federal para implantação de 1.000 quilômetros de energia trifásica; articulação de responsáveis pela gestão dos perímetros irrigados que ainda tenham a possibilidade de irrigação para formalizar parcerias para a produção de forragens, especialmente milho, sorgo e capim elefante. Viabilizando-se essa parceria serão firmados contratos com os produtores de forragem assegurando-se os preços de aquisição bem como a comercialização para os pecuaristas do Estado do Ceará.
Ainda com relação à pecuária, outro destaque é a criação e/ou implementação de uma linha de crédito emergencial, para aquisição de forragem; construção de poços pelos agricultores familiares, pequenos e médios produtores. Com isso, o governo do Estado e Prefeituras Municipais poderiam colaborar nessa atividade com a gerência e apoio logístico no transporte da forragem, estudos geofísicos, cessão de perfuratrizes e instalação dos poços.
Para o enfrentamento da seca, estão a solicitação de 388,792 mil toneladas de caroço de algodão; 441,968 mil de milho, para o setor de mandiocultura, para manutenção de casas de farinha; a produção de mel para 3.416 produtores; a construção de 779 barragens subterrâneas que serão construídas com o Dnocs; 809 kits de irrigação para dois hectares; o programa irrigação na minha propriedade, com distribuição 1.383 kits de um hectare; e ampliação do garantia safra, que beneficiará 334.113 produtores credenciados, aumentando de cinco para,12 parcelas, envolvendo recursos da ordem de R$ 283 milhões, entre outras ações.
Feira deverá proporcionar transferência de tecnologias
Durante a realização do XIX Seminário Nordestino de Pecuária (Pecnordeste), de 16 a 18 de junho, será realizada, pelo quarto ano consecutivo, uma exposição de animais bovinos e caprinos leiteiros (Pecleite), no estacionamento do Centro de Eventos. A programação contará com um concurso leiteiro, que objetiva premiar as raças maiores produtoras e mostrar todo o potencial genético do rebanho cearense.
“Na realidade, a Pecleite é uma pequena mostra do nosso rebanho caprino e bovino, com a participação de 40 animais, pois a sua finalidade maior não é ser uma feira e sim uma mostra do que temos de melhor em diversas raças”, destacou a engenheira agrônoma Rejane Bastos Dias, que está coordenando a Pecleite. Ela acrescenta que a exposição permitirá, também, fazer a transferência de tecnologias aos produtores que participam do Pecnordeste.
Este ano haverá duas oficinas, no próprio espaço do Pecleite — no dia 17, às 9h —, sobre “Caracterização de um animal da espécie bovina com aptidão para produção de leite”. Já no dia 18, às 9h, haverá a oficina “Caracterização de um animal da espécie caprina com aptidão para produção de leite”. Segundo Rejane Bastos, os produtores irão obter conhecimentos, através das oficinas que serão ministradas, para posteriormente, quando forem adquirir animais, aumentarão o seu rebanho para produção de leite.
O Pecnordeste é uma realização do Sistema Faec/Senar-CE/Sebrae-CE com o apoio de diversos parceiros e terá como tema central “Sertão Empreendedor: Um novo tempo para o semiárido” envolvendo sete segmentos produtivos do agronegócio da pecuária (Apicultura, Aquicultura e Pesca, Avicultura, Bovinocultura, Caprinovinocultura, Equinocultura e Suinocultura) e dois não pecuários (artesanato e turismo rural). As inscrições podem ser feitas através do telefone (85)-3535-8009, ou na Rua Edite Braga, 50 – Jardim América. Outras informações: pecnordeste@faec.org.br.