Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – Ceará

MANEJO E UTILIZAÇÃO DA PALMA FORRAGEIRA SÃO AMPLIADOS NO CE

A planta se mostra versátil, não apenas no reforço nutricional do rebanho, mas como alimento humano

São Luís do Curu. O engenheiro agrônomo Hélio Chaves encontrou, neste município, distante 84Km de Fortaleza, o local ideal para a criação de ovinos. O plantel do engenheiro, que conta hoje com cem cabeças de animais da raça Santa Inês, serve à comercialização para melhoramento genético, ajudando a reforçar a qualidade e o manejo desse tipo de animal naquele município, que conta hoje com cerca de 1.781 cabeças, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), distribuídas entre as 59 unidades de criação registradas pelo último Senso Agropecuário.

A ovelha Santa Inês, nativa do nordeste brasileiro, é resultante de sucessivos cruzamentos entre as raças Bergamacia, Morada Nova e Somalis, bastante comuns em diversas regiões do Ceará. Características como grande fertilidade, resistência e fácil adaptação ao clima do Semiárido fazem do animal um dos mais procurados para produção de pele e carne, podendo atingir em média até 100Kg para os machos e cerca de 70Kg para as fêmeas.

No caso dos animais criados por seu Hélio para comercialização em todo o Estado do Ceará, inclusive com participação em exposições nos Estados de Pernambuco, Alagoas e Bahia, o manejo da Palma Forrageira tem sido uma saída criativa e inovadora de sobrevivência no sertão cearense, tão castigado por sucessivas estiagens.

Segundo com o produtor, “ao longo dos anos, a exploração consciente da Palma tem melhorado muito a qualidade de nossos animais. As vantagens econômicas são diversas para o bem­estar e saúde de qualquer rebanho, quer seja de gado leiteiro, caprino ou ovino, principalmente em épocas de estiagens, pois hoje tem sido a base da alimentação desses animais”, disse.

Potencial

Identificada como potencial fator de reserva estratégica para alimentação de bovinos, ovinos e caprinos, a palma forrageira, originária do México, possui hoje amplo cultivo na Europa, África e América do Sul. No Brasil, se estende por mais de 500 mil hectares, destinados à produção de forragem, segundo pesquisa realizada pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Caprinos e Ovinos (Sobral), ocupando áreas, principalmente no Nordeste, por seu grande poder de resistência em regiões com pouca chuva. E por essa característica, a espécie tem sido bastante utilizada no sertão cearense. Em algumas épocas do ano, quando a chuva fica ainda mais escassa no Interior, a planta serve também para matar a sede do animal, pois o interior da palma é constituído de até 90% de água. Por representar importante papel econômico para o Estado, há décadas, a planta vem sendo produzida em condições extensivas, sendo estimulados, tanto a distribuição de sementes como os plantios mais densos e irrigados, em parcerias entre o governo do Estado e a iniciativa privada. No ano passado, por meio do Programa Hora de Plantar, foram distribuídos mais de 8 milhões de mudas da planta. Desde a criação do Programa, mais de 36 milhões de mudas foram repassadas aos produtores de diversos municípios cearenses.

Diversas espécies Segundo o coordenador de apoio às cadeias produtivas da pecuária da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), Márcio Peixoto, o Ceará tem de despontado na produção de palma forrageira, com destaque para as espécies gigante, orelha de elefante mexicana e baianinha. “Por substituir o milho na alimentação de animais, ser rica em energia, carboidrato e água, a palma forrageira vem sendo a solução para muitos produtores rurais na garantia da alimentação do rebanho”, afirmou.

Bons resultados

O cultivo da palma transformou a realidade do produtor de uva e goiaba Francisco Maciano Bezerra, que mora no município de Russas. Há 3 anos ele vem utilizando a palma forrageira para alimentar o rebanho e comercializar o produto. “O governo do Estado compra 95% da minha produção, por meio do Programa Hora de Plantar. Os 5% restantes, vendo para outros produtores. É uma cultura que não necessita de muita água. A produção pode chegar a 800 toneladas e a rentabilidade é alta”, afirma Francisco Bezerra.

Plantio sustentável

O cultivo tem sido a principal alternativa para alimentação animal em muitos municípios cearenses. Em Canindé, a 120Km de Fortaleza, a cultura começou a fazer a diferença há 2 anos, com a distribuição de apenas 2.500 sementes para 20 agricultores. “Antes da chegada da palma, agricultores de Canindé se deslocavam para retirada do mandacaru. Hoje, eles colhem uma planta totalmente sustentável no quintal de casa”, explica o articulador estadual do agronegócio do Serviço Brasileiro de Apoio às micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Paulo Jorge. Para incentivar a produção da planta no Estado, o Sebrae, com apoio de órgãos governamentais, tem capacitado o cultivo entre produtores de Quixadá, Quixeramobim, Jaguaretama e Barreira, com orientação ao agricultor sobre práticas de adubação e manejo do solo. “Com o plantio iniciado, a gente orienta o produtor até que ele esteja capacitado para conduzir a plantação. Há ainda visitas de acompanhamento das atividades”, explica o articulador do agronegócio.

Capacitação

O chefe do Departamento Técnico da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faec) e coordenador de Supervisão do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), Jorge Prado, reforça a busca pela capacitação para o aproveitamento máximo da produção. “É importante que os produtores que decidirem cultivar a palma forrageira busquem orientação e conhecimento da cultura para evitar pragas e doenças”, afirma Jorge, que contabiliza a capacitação, desde 2005, de cerca de 12.600 produtores, por meio de aulas de campo, consultorias, palestras, seminários e congressos.

Tema de encontros

No último dia 4, a palma foi tema de encontro em Brasília, entre representantes da Embaixada do México e técnicos do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), onde foi apresentado, pelos mexicanos, o grande potencial de exploração da espécie, conhecida naquele país como Nopal. Lá, a planta é utilizada na restauração de solos, medicina, alimentação animal, além de cosmético e alimento humano.

De acordo com Beatriz Paredes Rangel, as pesquisas no Brasil ainda estão voltadas para ampliar as áreas de forragem, mas a parceria entre os dois países pode contribuir para novas utilidades da planta. “Queremos mostrar ao Brasil que é possível produzir muito Nopal para complementar a nutrição da população, principalmente do Nordeste.

Nossos especialistas podem contribuir muito para as pesquisas da Embrapa”, afirmou. Ontem, a Secretaria da Agricultura, Pesca e Aquicultura (Seapa) realizou o I Seminário Sobre o Uso e Manejo da Palma Forrageira e suas Tecnologias. Entre os temas, foram destacados a produção no Ceará, sua expansão, novas tecnologias e parcerias institucionais para o seu desenvolvimento. No encontro, produtores, como seu Hélio Chaves, de São Luís do Curu; e Francisco Marciano Bezerra, de Russas, citados no início da reportagem, tiveram a oportunidade de conhecer novas tecnologias, referências na utilização de palma na alimentação animal, novas técnicas de manejo, além de participar das definições de políticas do governo do Estado para o incentivo ao cultivo.

Estendendo as discussões sobre o tema, entre os dias 22 e 23 de junho, a SDA, Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), o Instituto Agropolos, em parceria com a Faec e prefeituras, promoverão o 1º Seminário Cearense da Palma Forrageira, para incentivar cada vez mais o produtor a usá­la como fonte de alimento e demonstrar os casos de sucesso.

Outro projeto de destaque desenvolvido pelo governo do Estado é o Centro de Produção de Mudas de Palma Forrageira para Alimentação Animal (Repalma), que visa implantar o Centro de Produção de Mudas de Palma Forrageira por meio de fracionamento, instalando trinta hectares irrigados, nas diversas regiões do Ceará para produção de raquetes (mudas) resistentes à cochonilha do carmim (maior praga dessa cultura), e promover capacitações.

SAIBA MAIS

Similar ao milho ­ Por ter quase a mesma energia, além de carboidrato, fibras e diversos nutrientes, a palma é ideal para substituir o milho na dieta animal Alimentação humana ­ Rica em vitamina A, além de alimentar os animais, o cultivo serve também para abastecer os humanos, como suco, pastel, panqueca, salada e até sobremesas, como mousse e sorvete, utilizando como matéria­prima o broto da planta Indústria cosmética ­ A palma forrageira tem sido utilizada, também, na fabricação de cosméticos, como sabonetes, xampus, loções e adstringentes.

Mais informações:

Secretaria da Agricultura, Pesca e Aquicultura (Seapa)

Telefone: (85) 3241­0114

Inscrições para a Pecnordeste

Site: www.pecnordestefae.org.br