O coco é um dos produtos mais versáteis da fruticultura brasileira. Dele se aproveita tudo, desde a água, a carne, o óleo, até o bagaço. É muito mais do que uma bebida tropical. Para o Ceará, por exemplo, é uma das principais atividades agrícolas. O estado tem uma produção de mais de 300 mil toneladas, o que representa 19,5% do cultivo nacional.
Nesse cenário, está inserido o município de Trairi, região do semiárido nordestino. O produtor rural Cícero de Barros é um dos que vivem da produção. Em 2017, ele deixou o estado de São Paulo para produzir a fruta na região cearense.
“Eu já tinha o principal: a terra, que era uma herança da minha mãe, e água. Então juntei o útil ao agradável e comecei a produzir sem muito conhecimento. Quando meu pai plantava, ele só cavava um buraco, colocava a planta sem estrume, água e dava o fruto. E hoje não, a gente vê que precisa de varias técnicas”, afirmou Cícero.
A mudança no manejo veio com a Assistência Técnica e Gerencial do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). No início do atendimento, há um ano, foi feito um diagnóstico do solo e dos 646 coqueiros-anões da propriedade.
“A análise de solo é importante para saber qual a necessidade nutricional da planta e para ter uma projeção de quantidade de frutos e de quilos. Já a análise de folha é fundamental para saber os nutrientes que as raízes absorveram”, explicou a técnica de campo do Senar Ceará, Silviane Chaves.
São cerca de 12 colheitas por ano. Com as devidas adubações mensais e controle de pragas e doenças, o índice de abortamento caiu 90%. Segundo o produtor Cícero, a despesa maior é com insumos. Antes, ele também gastava com energia elétrica, mas com a ajuda do Senar, conseguiu a instalação de um painel solar com recursos de um programa estadual, que financia tecnologias sustentáveis.
O painel solar tem 18 placas que geram 900 quilowatts-hora de energia solar por mês, o suficiente para ser utilizado na irrigação dos pés de coco e zerar a conta mensal de energia elétrica de três residências.
“É na planilha de custo que se vê a diferença e o quanto você vai lucrar com isso. Eu percebo que faz uma diferença na conta da energia e na flexibilização na hora de aguar os coqueiros”, disse Cícero de Barros.
Com a redução no custo da energia elétrica, uso do manejo correto e controle das despesas, Cícero está mais preparado para aumentar a produção. “A ideia é duplicar. Se eu tiver a oportunidade de comprar uma propriedade ou um terreno aqui do lado para juntar e ampliar, vai dar certo”.
A Assistência Técnica e Gerencial do Senar tem dado certo também para outros agricultores do município. É o caso do João Freire, mais conhecido como “Mererê”, que faz parte do grupo de 30 produtores atendidos. Há 20 anos na atividade, é a primeira vez que ele consegue cortar tantos custos.
“Eu não conseguia comprar adubo e pagar as pessoas que nos ajudam com o dinheiro da propriedade. Sempre tirava de outro lugar para colocar aqui dentro. Hoje, graças a Deus está sobrando um pouquinho”, informou o produtor.
São 400 plantas em produção e 600 coqueiros que vão dar frutos no ano que vem. O lucro é de até 10 reais por planta. Com a atividade organizada, por meio da Assistência Técnica, João espera uma melhora nos preços e conseguir agregar valor ao produto.
“O objetivo é conseguir beneficiar esse produto na nossa região para levar até a prateleira ou pelo menos até a indústria para gerar aqui para nossa comunidade”, explicou.
Para o presidente do Sindicato Rural de Trairi, Clodoveu Pinheiro, se aumentar a produção, a renda do produtor aumenta junto. “Os produtores estão se associando, mesmo informalmente, para compra de insumos, venda dos produtos, conseguindo preços melhores”.
Todos esses avanços só foram possíveis com a chegada do programa Agronordeste, iniciativa criada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em parceria com o Senar e a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater), e que tem unido o campo e a cidade.
“O objetivo não é só mudar a realidade no campo, mas sustentar grandes cidades que estão afastadas dos centros urbanos, como vilas e comunidades. Porque no momento em que o produtor produz de forma consciente, ele ganha dinheiro e investe na sua atividade”, destacou o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará (Faec), Rodrigo Diógenes.