Cerca de mil produtores rurais tomaram as ruas da cidade de Tauá (344,7 km de Fortaleza), na manhã de ontem, em um protesto contra a renegociação das dívidas de crédito rural proposta pelo Governo Federal. Os agricultores – em sua maioria, vindos de municípios da região do Sertão dos Inhamuns – caminharam ao lado de carcaças de animais carregadas em tratores. Durante a manifestação, foram realizadas paradas em frente às agências do Banco do Brasil e do Banco do Nordeste e da Câmara Municipal de Tauá, onde uma audiência pública foi realizada, às 10 horas, a fim de debater a situação dos trabalhadores rurais
“A grande mensagem do movimento foi o perdão das dívidas. Elas estão muito altas e representam uma bola de neve na vida da gente. A situação econômica é muito complicada e nós não temos capacidade nenhuma de pagamento”, conta o produtor rural Francisco Barroso, um dos organizadores da passeata. Entre outras reivindicações da categoria, aponta Francisco, estão ainda terras para o plantio de forragem para o gado e a fixação de um crédito rural com prestações e saldo devedor decrescentes.
De acordo com o presidente da Associação Nacional de Amparo Jurídico ao Produtor Rural (Andar), Henrique Trigueiro, cerca de 400 mil agricultores em todo o Estado estariam em situação de débito devido a operações de crédito rural. “Essas dívidas devem ser anuladas. O banco não ofereceu assistência técnica nem seguro rural em prol desses agricultores. Essas dívidas são objetos de renegociações infrutíferas e impossíveis de ter um resultado prático. Como eu vou pagar uma dívida numa seca horrorosa dessas?”, questiona.
Henrique explica que aproximadamente 80% dos débitos dos agricultores teriam sido adquiridos ainda na década de 1990. Assim, não poderiam ser contemplados com a prorrogação por 10 anos do pagamento das dívidas – anunciado pela presidente Dilma Rousseff para débitos contratados entre 2012 e 2014. “Esse produtor vem só rolando uma dívida que ele não tem a mínima condição de pagar”, completa.
Renegociações
Segundo o presidente da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Ceará (Fetraece), Moisés Braz, a renegociação – e não o perdão – das dívidas seria a melhor saída econômica para os produtores atingidos pela seca. “Se a gente não renegociar, não vamos poder fazer qualquer crédito para comprar forragem ou fazer um sistema de abastecimento de água, por exemplo”, comenta.
O Banco do Nordeste, por meio de assessoria de imprensa, informou que o envio para cobrança judicial de dívidas de produtores rurais de municípios afetados pela seca foi suspenso. Aqueles que já estavam sendo acionados na Justiça devem, conforme o banco, formalizar o interesse em aderir à renegociação, por meio da assinatura de um termo de adesão, para terem suas cobranças suspensas. (colaborou Amaury Alencar)
ENTENDA A NOTÍCIA
Cerca de mil produtores rurais realizaram uma passeata no municípios de Tauá reivindicando o perdão das dívidas ligadas ao crédito rural. A manifestação contou com a presença de carcaças de animais carregadas em tratores.
Saiba mais
Segundo a Andar, cerca de 600 agricultores da região do Sertão dos Inhamuns possuiriam dívidas de crédito rural. O presidente da associação, Henrique Trigueiro, desconfia, no entanto, que o número seja, na verdade, muito maior.
A região do Sertão dos Inhamuns, conforme matéria publicada pelo O POVO no último dia 7, seria a área do Estado mais afetada pela falta de água. De acordo com a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), o trimestre entre fevereiro e abril registrou chuvas 57,6% abaixo da média no local.
Fonte: Jornal OPOVO